Marcadores sociais de
diferença
Quando
examinamos, fazemos uma análise das sociedades, identificamos imediatamente a
existência de diversidades e desigualdades sociais.Muitas das diferenças entre
os indivíduos são de natureza humana como por exemplo, gênero, cor da pele,
idade, altura etc. Contudo as desigualdades sociais são produto das relações
estabelecidas entre os indivíduos, como vimos anteriormente ao estudarmos
classes sociais e o sistema capitalista, estas refletem os conflitos de
interesses de grupos ou indivíduos em relação aos outros grupos ou indivíduos
que, geralmente, colocam todos na condição de opressores e oprimidos.
Historicamente
vimos que o capitalismo apresenta um grande conflito: a luta entre burgueses e
proletários.No entanto, a história do século XX apresenta outros conflitos de
interesses que vão muito além da divisão da sociedade em classes: conflitos
entre os gêneros (homens e mulheres), adultos e jovens, brancos e não-brancos,
minorias étnicas, heterossexuais e homossexuais.
As mulheres a
partir do século XIX, e os jovens e as minorias sexuais, a partir dos anos de
1960, passaram a demonstrar sua revolta de forma coletiva.No século XX os
negros e outras etnias demonstraram sua força, nas lutas pelos direitos civis
nos EUA, pelo fim do apatheid na África do Sul e pelo fim do racismo, no
renascimento do movimento negro no Brasil e na luta dos palestinos.
Apesar da
força social dos movimentos construídos pelos oprimidos, dos milhões de vidas
sacrificadas em nome da igualdade de direitos e da liberdade, a história desses
grupos não é animadora.Sabemos que as condições de trabalho melhoraram, mas as
melhorias foram limitadas aos países imperialistas centrais, e a grande maioria
dos trabalhadores ainda é explorada, de forma semelhante ao século XIX.A cada
dia morre mais seres humanos de fome que no tempo da escravidão.Os oprimidos
ajudaram a fundar partidos, sindicatos e associações, mas a maioria destas
entidades ainda não conseguiu reverter as condições subumanas dos subjugados
da história.
Muitos
indivíduos são submetidos a uma série de discriminações e preconceitos só pelo
fato de pertencerem a uma determinada categoria de pessoas.A opressão, para se
justificar, faz uso de um sistema de idéias a que chamamos de ideologia.
Existem ao menos
cinco situações de desigualdade e opressão: de classe, de gênero, de geração,
de raça/etnia e de orientação sexual.
As desigualdades de classe – Como
aprendemos, as desiguais sociais se formaram em consequência da distribuição
desigual de renda, do excedente de riqueza produzido pelas sociedades. As
sociedades agrícolas antigas eram capazes de produzir uma quantidade de
alimentos superior as necessidades, isso proporcionou a uma pequena camada da
população o privilégio de deixar de trabalhar e viver do trabalho alheio.
As várias
classes sociais dominantes se caracterizaram por apropriarem-se, em modo e em
tempos diversos, do excedente de riqueza produzida pelas classes subalternas.O
sistema econômico dominante em cada época se esforça em manter separadas as
classes sociais e reduzir ao mínimo as possibilidades de ascensão social.Isso
ocorre através do sistema escolar, à separação territorial de classes sociais:
Rio de janeiro – Zona Oeste, favelas, subúrbios, zona norte e zona sul, à
ideologia etc.
Contudo o
sistema capitalista fez da ilusão da ascensão social ou da mobilidade social um
dos pilares de sua ideologia. Hoje, haveriam três classes fundamentais nos
países imperialistas e no Brasil se seguirmos as teorias de Marx: o
proletariado, a burguesia e a pequena burguesia. Mas com a realidade imposta
pelo neoliberalismo[1],
encontramos também milhões de indivíduos totalmente excluídos de qualquer
relação social, política e econômica.
As
desigualdades de gênero – Desde a antiguidade várias sociedades mantiveram
a supremacia masculina, esta dominação provocou a exclusão sistemática das
mulheres da política, do governo, da literatura, da arte, com exceção de raros
e relevantes momentos. Esta é a exclusão mais sistemática já praticada na
história da humanidade.A herança desta história de dominação masculina se
expressa hoje de diversas formas, entre elas: o uso da violência
institucionalizada e doméstica, a legislação discriminante, dependência
econômica ao marido e ao pai, além é claro da coisificação da mulher etc.
Chamamos
machismo à ideologia que, através de diversas formas, os homens justificam a
opressão que exercem. Entretanto as características do sistema capitalista
favorecem a inserção da mulher no mercado de trabalho e isso fez com que elas
pudessem sair em parte é claro, do próprio isolamento.
As primeiras
revoltas contra a opressão feminina ocorreram no final do século XIX, a partir
dos movimentos pelo voto universal (sufragistas) e daqueles ligados ao
movimento operário.Não podemos esquecer que durante a Revolução francesa as
mulheres foram de extrema importância para o movimento, inclusive foram as
peixeiras de Paris, em marcha para Versalhes que retiraram rei e rainha do
palácio a força, e também foram as mulheres que foram as ruas reclamando do preço
do pão e muitas outras atrocidades cometidas pelos monarcas deste período Luis
XVI e Maria Antonieta.
Essas lutas
ganharam maior impulso nos anos de 1960, quando os espaços conquistados pelas
mulheres representaram uma transformação sem precedentes na própria condição
feminina. Mas infelizmente a discriminação persiste e se manifesta desde piadas
até mesmo na legislação contrária ao divórcio que ainda sobrevive em muitos
países, na violência doméstica, na discriminação no local de trabalho etc.Mas as mulheres aqui
no Brasil tiveram uma conquista recente e muito importante: a Lei Maria da
Penha [2]- a lei número 11.340 decretada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo então presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva em 7 de agosto de 2006; dentre as várias mudanças promovidas pela lei está o
aumento no rigor das punições das agressões contra a mulher quando ocorridas no âmbito doméstico ou
familiar. A lei entrou em vigor no dia 22 de
setembro de 2006, e já no
dia seguinte o primeiro agressor foi preso, no Rio
de Janeiro, após tentar estrangular a ex-esposa.
As desigualdades
de geração – A
especificidade da opressão sobre os jovens é sua transitoriedade.Uma vez
adulto, o jovem poderá se transformar em opressor, esquecendo as próprias
condições nas quais viveu como oprimido.Apesar disso os jovens sempre se
rebelaram diante das regras sociais impostas.A sua luta, contudo, foi, até
pouco tempo, escondida e isolada no espaço doméstico. O advento do sistema
escolar de massa fez com que eles se encontrassem, criando espaços coletivos
como manifestações, ocupações, contestações,greves, expressões culturais
alternativas.
Habitualmente, os jovens se organizam em associações bem estruturadas,
como grêmios escolares, DCEs, DCAs, centros sociais etc. caracterizadas por um
baixo grau de formalismo ( larga participação etc.). A opressão contra jovens
se manifesta hoje na sociedade através da discriminação no trabalho ( baixos
salários, desemprego, exploração), na limitação dos direitos civis (violência
doméstica, etc.). Felizmente este quadro já vem se modificando a bastante
tempo, embora ainda existam algumas questões a serem examinadas amplamente,
como o primeiro emprego, a situação dos estagiários etc.
A desigualdade
racial – Esse tipo de opressão é bem antigo,
quando haviam diversas etnias que guerreavam entre si.Entretanto estes
conflitos não ocasionavam grandes tragédias, como as que ocorreram e ocorrem
ainda hoje.Além disso não tinham como consequência a dominação de uma etnia
pela outra.Com a divisão da sociedade em classes, verificou-se o
estabelecimento da condição de escravos para os derrotados. A palavra escravo
tem origem no nome do povo Eslavo, entre o qual na antiguidade se recrutava o
maior número de escravos. Após os grandes impérios submeteram povos inteiros à
escravidão ou ao pagamento de tributos para sustentar os governos dominadores.
A luta dos povos e etnias oprimidas em determinadas sociedades marcou
épocas e não há perspectivas de sua eliminação no atual sistema capitalista.Em
épocas passadas eram nações dominadas pelo centro econômico europeu ( chineses,
indianos, africanos).
Esta opressão consiste frequentemente em sufocar costumes, hábitos
sociais e, por conseguinte, a língua, a religião, a cultura e a história. Em
determinadas situações, a exploração econômica de uma etnia sobre outra se
expressa através de discriminações no mercado de trabalho. Esta opressão sempre
provocou reações, como lutas por um autogoverno ou pela autodeterminação dos
povos.Nações e etnias oprimidas como os palestinos e os negros no Brasil,têm
obviamente culturas próprias,elaborando,assim, suas próprias idéias.
O nacionalismo dos povos oprimidos e a auto-estima dos negros
brasileiros não podem ser confundidos com aquele nacionalismo que oprime ou com
o racismo às avessas, pois estes são também opressores,já que significam, no
fundo, a dominação de um grupo, ou nação sobre os outros.
A desigualdade de
orientação sexual - A opressão contra gays e lésbicas se expressa
sob todas as formas socioeconômicas, em todas as sociedades,através da
obrigação de seus membros de aderir a heterossexualidade. Quem se opõe ao
padrão de “normalidade” estabelecido, ou seja, a heterossexualidade sempre é
punido ou considerado portador de uma doença, vítima de discriminação.
Esta discriminação variou de intensidade nas diferentes épocas, mantendo
porém, uma absoluta continuidade, o famoso escritor Oscar Wilde sofreu com a condenação a partir do parágrafo
175 [3]foi julgado
culpado de "práticas estranhas à natureza" e condenado a dois anos de
trabalhos forçados pelo tribunal de Old Baley.A condição de gay ou lésbica é atacada de forma sistemática pela
sociedade. Só o fato de haver grupos sociais que colocam em discussão a
heterossexualidade é visto por muitos como um atentado.
A discriminação não é obviamente operativa se gays e lésbicas mantiverem
na clandestinidade a própria orientação sexual.É no momento em que se assumem
publicamente que começa a guerra contra eles.Essa discriminação atua em todos
os setores: no local de trabalho, onde, além de correrem o risco de demissão,
são molestados pelos outros trabalhadores (as); na sociedade, que os impede de
ter qualquer posto de comando; na família, em que a declaração de
homossexualidade chega a gerar crises e chantagens de várias naturezas.
A discriminação opera com tal violência, física e psicológica, que o
indivíduo não tem coragem de reconhecer nele mesmo a própria essência de sua
orientação sexual. Porém, se há oprimidos, existem também os opressores.Estes
se encontram geralmente nos heterossexuais,eles encontram uma série de falsas
vantagens de natureza quase exclusivamente psicológica para contribuir com a
opressão.
Tornar os homossexuais alvo de chacota e mostrar, em público, o desprezo
para com eles, assegura a própria identidade heterossexual para si mesmo e para
os outros, mantendo assim a participação na “normalidade” sexual dominante.
Concluindo, alguns indivíduos recebem salários menores que outros mesmo
tendo a mesma qualificação profissional, pois os fatores que determinam essa
situação estão nas diversidades de etnia, gênero, orientação sexual e de
geração.Ou seja, essas diferenças entre os indivíduos são transformadas, nas
relações sociais, em
desigualdades. Portanto , quando ouvimos piadas, frases
discriminatórias sobre mulheres, judeus, adolescentes, jovens, homossexuais e
negros, elas reforçam e refletem as desigualdades sociais.
Negros e negras não são “incapazes”, “ignorantes”, “primitivos”,
“bandidos”, etc., e que por isso recebem menores salários que os brancos. É o
modelo capitalista que se aproveita da ideologia da inferioridade racial para
explorar ainda mais os trabalhadores e trabalhadoras e extrair mais-valia
maior.As mulheres não são inferiores intelectualmente aos homens, não são apenas
objetos, nem todas são fúteis e
desatentas, afinal existem homens com as mesmas características, portanto essas
não são características exclusivas das mulheres e não são gerais, as mulheres
possuem raciocínio lógico, senso de direção, essas afirmações infundadas só
servem para reforçar a dominação masculina.Enfim, no mundo do trabalho, em
qualquer profissão, além das desigualdades de classe, certos indivíduos podem
sofrer duas, três, quatro ou cinco vezes mais exploração e as desigualdades
sociais.
[1] Podemos definir o
neoliberalismo como um conjunto de idéias políticas e econômicas capitalistas
que defende a não participação do estado na economia. De acordo com esta
doutrina, deve haver total liberdade de comércio (livre mercado), pois este
princípio garante o crescimento econômico e o desenvolvimento social de um
país.Surgiu na década de 1970, através da Escola Monetarista do economista Milton
Friedman, como uma solução para a crise que atingiu a economia mundial em 1973,
provocada pelo aumento excessivo no preço do petróleo. Características do Neoliberalismo (princípios
básicos): - mínima participação estatal nos rumos da economia de um
país; - pouca intervenção do governo no mercado de trabalho; - política
de privatização de
empresas estatais; - livre circulação de capitais internacionais e ênfase
na globalização; -
abertura da economia para a entrada de multinacionais; - adoção de medidas
contra o protecionismo econômico;
- desburocratização do estado: leis e regras econômicas mais simplificadas para
facilitar o funcionamento das atividades econômicas; - diminuição do tamanho do
estado, tornando-o mais eficiente; - posição contrária aos impostos e tributos
excessivos; - aumento da produção, como objetivo básico para atingir o
desenvolvimento econômico; - contra o controle de preços dos produtos e
serviços por parte do estado, ou seja, a lei da oferta e demanda é suficiente
para regular os preços; - a base da economia deve ser formada por empresas
privadas;
[2] A introdução da lei diz:
Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher,
nos termos do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação
de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção
Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher;
dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a
Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução
Penal; e dá outras providências.
[3] O Parágrafo 175, conhecido formalmente
como §175 StGB e também como "Section 175" na língua
inglesa, foi uma medida do Código Criminal Germânico em
vigor de 15 de maio de 1871 a 10 de março de 1994. O Parágrafo 175
considerava as relações homossexuais como crime, sendo que nas
primeiras edições também criminalizava as relações sexuais humanas com animais,
conhecidas como bestialidade.
O dispositivo legal sofreu várias emendas ao
longo do tempo. Quando os nazistas assumiram o poder em 1935, as condenações
através do Parágrafo 175 aumentaram na ordem de magnitude de 10 vezes.
Início
2°Ano
..
Nenhum comentário:
Postar um comentário