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1°Ano/texto 2
As Culturas Humanas como Processos
Foi dessa capacidade de pensar o mundo, de
atribuir significado à realidade, que o homem criou o conhecimento. Desde os
primeiros vestígios arqueológicos do homem sobre a Terra, percebemos que os
problemas por ele enfrentados – de sobrevivência, defesa e perpetuação da
espécie – lhe apareceram como obstáculos, para os quais buscou explicações
sobre si mesmo e sobre o mundo em que vive.
Os mais antigos “cemitérios” humanos, onde
se encontram ossadas dispostas numa certa posição acompanhadas de alguns
objetos, mostram que mesmo o ato de enterrar os mortos respondia a questões
relativas à vida e à morte e implicava uma escolha da “melhor forma” de ação.
Aceita pelo grupo, essa “melhor forma” tende a se repetir, transformando-se em ritual – uma ação revivida em grupo e
explicada em função da resposta coletiva dada ao “para que” da existência
humana.
Podendo escolher, julgar, pensar sobre
situações passadas e futuras, o homem passou da simples experiência imediata a
explicações que lhe garantiam o conhecimento de si e do mundo à sua volta,
formulando justificativas para fatos, atitudes e comportamentos. A partir do
desenvolvimento dessa capacidade simbólica e da linguagem, a ação humana passou
a ser intermediada pela atribuição de significados, interpretações
estabelecidas e partilhadas entre os grupos humanos. Essas interpretações, a
que chamamos conhecimento, criaram soluções para necessidades concretas de vida
e sobrevivência e se mantiveram sempre operantes enquanto foram adequadas, mais
úteis às dificuldades enfrentadas. Assim, se por um lado as culturas humanas
tendem à ritualização e à repetição, amparadas na tradição e no aprendizado,
por outro elas representam a possibilidade de mudança e adaptação. A própria
reprodução das formas de vida existentes acarreta novas necessidades, que o
homem procurará satisfazer transformando o modelo existente. Podemos então
conceber as diferentes culturas como essencialmente dinâmicas, desenvolvendo
mecanismos de conservação e mudança num permanente ajuste.
Essa idéia da relação existente entre as
culturas humanas e as condições de vida de cada agrupamento humano nos mostra
que as diferenças entre as culturas não são de qualidade nem de nível: devem-se
às circunstâncias que as cercam. Durante muito tempo se pensou que culturas de
sociedades iletradas ou ágrafas eram menos complexas ou menos elaboradas do que
as de sociedades em que se havia desenvolvido a escrita. Hoje se sabe que os
conhecimentos passados pela tradição oral, por meio de contadores de história,
são de complexidade e profundidade comparáveis àqueles veiculados pela escrita.
Se certas sociedades não criaram o alfabeto e a linguagem gráfica, é porque o
modo de vida de tais indivíduos não lhes despertou tal necessidade, não porque
sua capacidade mental fosse “inferior”. A capacidade simbólica e os padrões de
todas as culturas humanas são igualmente abstratos, significativos e dão
respostas úteis aos problemas de compreensão do mundo.
A Ciência como Ramo do Conhecimento
Durante séculos, o homem pensou sobre si
mesmo e sobre o mundo, adquiriu conhecimentos, estabeleceu interpretações
ajustadas à vida cotidiana. Entretanto, o tipo de problema que o levava a isso
mudou sensivelmente conforme as culturas e o passar dos séculos. Vejamos como
isso se deu na história da civilização ocidental.
Sabe-se hoje que os egípcios tinham grandes
conhecimentos de geometria – palavra de origem grega que quer dizer “medição da
Terra”. Tais conhecimentos foram elaborados a partir da necessidade social de
prever o transbordamento do Rio Nilo e restabelecer fronteiras territoriais que
essas inundações extinguiam. Com uma corda dividida em treze partes por meio de
nós e dois homens que a manuseavam, conseguiram criar as mais diferentes formas
geométricas, capazes de resolver seus problemas de medição territorial. O
conhecimento adquirido com o auxílio dessa técnica foi aplicado, depois, com
grande êxito, às construções arquitetônicas, tornando-se mais tarde a base do
pensamento geométrico pitagórico. Entretanto, para os egípcios, esse saber não
estava dissociado de outras questões fundamentais de sua cultura, como a vida
após a morte, os deuses e a hierarquia entre os homens.
Foram os gregos que conceberam a idéia do
saber como um fim em si mesmo, como atividade destinada a descobertas
desligadas de uma finalidade prática imediata ou à solução de questões
metafísicas. Menos preocupados com a religião e a vida após a morte, os gregos
foram os precursores da elaboração de uma forma de pensar à qual se deu o nome
de ciência, uma atividade com
objetivos próprios.
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3°Ano
Resumo: Cidadania
A história da cidadania confunde-se em muito
com a história das lutas pelos direitos humanos. A cidadania esteve e está em
permanente construção; é um referencial de conquista da humanidade, através
daqueles que sempre lutam por mais direitos, maior liberdade, melhores
garantias individuais e coletivas, e não se conformam frente às dominações
arrogantes, seja do próprio Estado ou de outras instituições ou pessoas que não
desistem de privilégios, de opressão e de injustiças contra uma maioria desassistida
e que não se consegue fazer ouvir, exatamente por que se lhe nega a cidadania
plena cuja conquista, ainda que tardia, não será obstada. Ser cidadão é ter
consciência de que é sujeito de direitos. Direitos à vida, à liberdade, à
propriedade, à igualdade, enfim, direitos civis, políticos e sociais. Mas este
é um dos lados da moeda. Cidadania pressupõe também deveres. O cidadão tem de
ser cônscio das suas responsabilidades enquanto parte integrante de um grande e
complexo organismo que é a coletividade, a nação, o Estado, para cujo bom
funcionamento todos têm de dar sua parcela de contribuição. Somente assim se
chega ao objetivo final, coletivo: a justiça em seu sentido mais amplo, ou
seja, o bem comum.
Sumário:
Introdução – 1; A Cidadania na Antigüidade –
2; A Cidadania na Grécia Antiga – 3;
A Cidadania Romana – 4; Cidadania na Idade
Média – 5; Cidadania na Idade Moderna – 6; Outras Considerações – 7; A
Cidadania no Brasil – 7; Conclusão – 9; Referências Bibliográficas – 10.
INTRODUÇÃO
No discurso corrente de políticos,
comunicadores, dirigentes, educadores, sociólogos e uma série de outros agentes
que, de alguma maneira, se mostram preocupados com os rumos da sociedade, está
presente a palavra cidadania. Como é comum nos casos em que há a
superexploração de um vocábulo, este acaba ganhando denotações desviadas do seu
estrito sentido. Hoje, tornou-se costume o emprego da palavra cidadania para
referir-se a direitos humanos, ou direitos do consumidor e usa-se o termo
cidadão para dirigir-se a um indivíduo qualquer, desconhecido.
De certa forma, faz sentido a mistura de
significados, já que a história da cidadania confunde-se com a história dos
direitos humanos, a história das lutas das gentes para a afirmação de valores
éticos, como a liberdade, a dignidade e a igualdade de todos os humanos
indistintamente; existe um relacionamento estreito entre cidadania e luta por
justiça, por democracia e outros direitos fundamentais asseguradores de
condições dignas de sobrevivência.
Expressão originária do latim, que tratava o
indivíduo habitante da cidade (civitas), na Roma antiga indicava a
situação política de uma pessoa (exceto mulheres, escravos, crianças e outros)
e seus direitos em relação ao Estado Romano. No dizer de Dalmo Dallari:
“A cidadania expressa um conjunto de
direitos que dá à pessoa a possibilidade de participar ativamente da vida e do
governo de seu povo. Quem não tem cidadania está marginalizado ou excluído da
vida social e da tomada de decisões, ficando numa posição de inferioridade
dentro do grupo social”[1].
No Brasil, os primeiros esforços para a
conquista e estabelecimento dos direitos humanos e da cidadania confundem-se
com os movimentos patrióticos reivindicativos de liberdade para o País, a
exemplo da inconfidência mineira, canudos e outros. Em seguida, as lutas pela
independência, abolição e, já na república, as alternâncias democráticas,
verdadeiros dilemas históricos que custaram lutas, sacrifícios, vidas humanas.
E hoje, a quantas anda a nossa cidadania? A
partir da Constituição de 1988, novos instrumentos foram colocados à disposição
daqueles que lutam por um País cidadão. Enquanto consumidor, o brasileiro
ganhou uma lei em sua defesa – o CDC; temos um novo Código de Trânsito; um novo
Código Civil. Novas ONGs que desenvolvem funções importantíssimas, como defesa
do meio ambiente. A mídia, apesar dos seus tropeços, tem tido um papel
relevante em favor da cidadania. E muitas outras conquistas a partir da Nova
Carta.
Como o exemplo da Ação Cidadania Contra a
Miséria e pela Vida, Movimento pela Ética na Política. Memorável a ação dos
“caras-pintadas”, movimento espontâneo de jovens que contribuiu para o impeachment do presidente Collor. A Ação Popular,
Ação Civil Pública, Mandado de Injunção, Mandado de Segurança entre outros,
além da instituição do Ministério Público, importante instrumento na defesa da
ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.
Há um longo caminha a percorrer. É só ativar
um pouco a nossa acuidade natural e veremos que estamos cercados de um sem
número de mazelas que insistem em infestar a nossa sociedade. Os representantes
que, mal acabam de se eleger, dão as costas para o eleitor e este não lhe nega
a recíproca, deixando aqueles ainda mais à vontade para as suas rapinagens.
Uma pesquisa divulgada pelo Ibope[2] em 25.11.03 traz dados preocupantes sobre as nossas
relações de cidadania. Indica que 56% dos brasileiros não têm vontade de
participar das práticas capazes de influenciar nas políticas públicas. 35% nem
tem conhecimento do sejam essas práticas e 26% acham esse assunto “chato
demais” para se envolver com ele. Nem tudo está perdido: 44% dos entrevistados
manifestaram algum interesse em participar para a melhoria das atividades
estatais, e entendem que o poder emana do povo como está previsto na
Constituição. A pesquisa anima, de forma até surpreendente, quando mostra que
54% dos jovens (entre 16 e 24 anos), têm interesse pela coisa pública.
Interesse que cai progressivamente à medida que a idade aumenta. A pesquisa
ajuda a desmontar a idéia que se tem de que o jovem é apático ou indiferente às
coisas do seu país.
1. A CIDADANIA NA ANTIGÜIDADE
Em tempos recuados da História encontram-se
sinais de lutas sociais que lembram bem a busca por cidadania. Bem tratado por
Jaime Pinsky, apudEmiliano
José[3], por volta do século
VIII a.c. os Profetas Isaías e Amós pregavam em favor do povo e contra os
opressores:
“cessai de fazer o mal,
aprendei a fazer o bem. Respeitai o direito, protegei o oprimido. Fazei justiça
ao órfão, defendei a viúva”.
“Portanto, já que explorais o pobre e
lhe exigis tributo de trigo, edificareis casas de pedra, porém não habitareis
nelas, plantareis as mais excelentes vinhas, porém não bebereis do seu vinho.
Porque eu conheço as vossas inúmeras transgressões e os vossos grandes pecados:
atacais o justo, aceitais subornos e rejeitais os pobres à sua porta”.
1.1 A CIDADANIA NA GRÉCIA ANTIGA
Na Grécia de Platão e Aristóteles, eram considerados cidadãos todos
aqueles que estivessem em condições de opinar sobre os rumos da sociedade.
Entre tais condições, estava a de que fosse um homem totalmente livre, isto é,
não tivesse a necessidade de trabalhar para sobreviver, uma vez que o
envolvimento nos negócios públicos exigia dedicação integral. Portanto, era pequeno o número
de cidadãos, que excluíam além dos homens ocupados (comerciantes, artesãos), as
mulheres, os escravos e os estrangeiros. Praticamente apenas os proprietários
de terras eram livres para ter o direito de decidir sobre o governo. A
cidadania grega era compreendida apenas por direitos políticos, identificados
com a participação nas decisões sobre a coletividade.
Citando Sabine, Quintão Soares[4] explica que, em consonância com a assertiva de que
cidadania é um mecanismo de representação política que permite relacionamento
pessoal entre governantes e governados e que esse paradigma assenta-se na
instituições greco-romanas e sua complexa transição para a Idade Média,
demonstra que os modernos conceitos de ideais políticos, como os de justiça,
liberdade, governo constitucional e respeito às leis, surgiram de conceitos de
pensadores helênicos sobre as instituições da Cidade-Estado.
Na Grécia antiga, toda a sociedade da
civilização apresentava a dicotomia cidadão e não-cidadão. Lage de Resende e
Morais, apud Wilba L. M. Bernardes[5], ensina que:
“A cidadania era para os gregos um bem
inestimável. Para eles a plena realização do homem se fazia na sua participação
integral na vida social e política da Cidade-Estado”. “...só possuía
significação se todos os cidadãos participassem integralmente da vida política
e social e isso só era possível em comunidades pequenas”.
Wilba L. M. Bernardes[6] refere-se a outros autores para esclarecer que no início
da evolução ateniense só uma classe de cidadãos exercia a plenitude da
cidadania (existia uma divisão censitária da sociedade); somente a partir das
reformas de Clístenes (509 a .c.),
essa cidadania foi estendida a todo cidadão ateniense, que poderia inclusive
exercer qualquer cargo de governo. Também é a partir de Clístenes, segundo
ensina Fustel de Coulanges,
que a antiga aristocracia ateniense sofreu o seu mais duro golpe: Clístenes
confirmou as reformas políticas de Sólon, introduziu também reformas na velha
organização religiosa da sociedade ateniense: “A partir deste momento, não
houve mais castas religiosas, nem privilégios de nascimento na religião ou na
política”.
Celso Lafer, apud Mário Quintão[7], entende que a
igualdade resulta da organização humana, que é o meio de igualizar as
diferenças por intermédio das instituições. É o caso da polis, que tornava os homens
iguais através da lei. Perder o acesso à esfera pública equivalia a privar-se
da igualdade. O indivíduo, destituído da cidadania e submetido à esfera
privada, não usufruía os direitos, que só podiam existir em função da
pluralidade dos homens. A esfera privada, vinculada às atividades de
sobrevivência do indivíduo, era o espaço de sujeição no qual a mulher, o
escravo e os filhos, destituídos de direitos, estavam sob o domínio despótico
do chefe de família e a proteção das divindades domésticas.
Lembra Wilba Bernardes que o Estado à época de
Roma e Grécia, se é que podem assim ser chamados, não tinha a feição que hoje
lhe é conferida; era mais um prolongamento da família, pois esta era a base da
sociedade. E sendo assim, o indivíduo encontrava-se completamente absorvido
pelo Estado ou pela Cidade-Estado. Aos cidadãos atenienses eram reservados os
direitos políticos. Os cidadãos formavam o corpo político da cidade, daí a
faculdade de tomarem parte das Assembléias, exercerem a magistratura e
proporcionarem a justiça.
1.2 A CIDADANIA ROMANA
Em Roma, também se encontra, patente, a idéia
de cidadania como capacidade para exercer direitos políticos e civis e a
distinção entre os que possuíam essa qualidade e os que não a possuíam. A
cidadania romana era atribuída somente aos homens livres, mas nem todos os
homens livres eram considerados cidadãos. Segundo Wilba Bernardes, em Roma
existiam três classes sociais: os patrícios (descendentes dos fundadores), os
plebeus (descendentes dos estrangeiros) e os escravos (prisioneiros de guerra e
os que não saldavam suas dívidas). Existiam também os clientes, que eram,
segundo informam Pedro e Cáceres[8], homens livres,
dependentes de um aristocrata romano que lhes fornecia terra para cultivar em
troca de uma taxa e de trabalho.
Em princípio, a diferença entre patrícios e
plebeus é que estes, apesar de homens livres, não eram considerados cidadãos,
privilégio dos patrícios, que gozavam de todos os direitos políticos, civis e
religiosos[9]. Isso deu motivo a
várias lutas internas, entre patrícios e plebeus. Após a reforma do Rei Sérvio
Túlio, os plebeus tiveram acesso ao serviço militar e lhes foram assegurados
alguns direitos políticos. Só a partir de 450 a .C., com a elaboração da famosa Lei das
Doze Tábuas, foi assegurada aos plebeus uma maior participação política, o que
se deveu em muito à expansão militar romana. O Direito Romano regulava as
diferenças entre cidadãos e não-cidadãos. O direito civil (ius civile)
regulamentava a vida do cidadão, e o direito estrangeiro (ius gentium)
era aplicado a todos os habitantes do império que não eram considerados
cidadãos.
Ensina Alves,
no dizer de Wilba Bernardes, que:
“Desde os fins da República, a
tendência de Roma é no sentido de estender, paulatinamente, a cidadania a todos
os súditos do Império. Assim, em 90
a .c., a lex Iulia a concedeu aos habitantes do Latium;
um ano depois, a lex Plautia Papiria a atribuiu aos aliados de Roma; e, em 49 a .c., a lex Roscia fez o
mesmo com relação aos habitantes da Gália Transpadana”[10].
Em 212 d.C., Caracalla, na célebre Constitutio Antoniniana,
concedeu a cidadania a quase todos os habitantes do Império. As exceções que
subsistiram desapareceram com Justiniano.
Na lição de Mário Quintão[11], vê-se que o Direito
Romano, apesar de proteger as liberdades individuais e reconhecer a autonomia
da família com o pátrio poder, não assegurava a perfeita igualdade entre os
homens, admitindo a escravidão e discriminando os despossuídos. Ao lado da
desigualdade extrema entre homens livres e escravos, o Direito Romano admitia a
desigualdade entre os próprios indivíduos livres, institucionalizando a
exclusão social.
1.3 A CIDADANIA NA IDADE MÉDIA
Com a decadência do Império Romano, e
adentrando a Idade Média, ocorrem profundas alterações nas estruturas sociais.
O período medieval é marcado pela sociedade caracteristicamente estamental, com
rígida hierarquia de classes sociais: clero, nobreza e servos (também os vilões
e os homens livres).
A Igreja cristã passou a constituir-se na
instituição básica do processo de transição para o tempo medieval. As relações
cidadão-Estado, antes reguladas pelo Império, passam a controlar-se pelos
ditames da Igreja cristã. A doutrina cristã, ao alegar a liberdade e igualdade
de todos os homens e a unidade familiar, provocou transformações radicais nas
concepções de direito e de estado.
Para Mário Quintão, o desmoronamento das
instituições políticas romanas e o fortalecimento do cristianismo ensejaram uma
reestruturação social que foi dar-se no feudalismo, cujas peculiaridades
diferiam consoante seus aspectos regionais. O feudalismo, considerado “idade
das trevas”, configura-se pela forma piramidal caracterizada por específicas
relações de dependência pessoal (vassalagem), abrangendo em sua cúpula rei e
suserano e, em sua base, essencialmente, o campesinato.
Essa relação de dependência pessoal de
obrigações mútuas originava-se de ato sacramental e solene e que apresentava
duas vertentes: o vassalo, em troca de proteção e segurança, inclusive
econômica, oferecia fidelidade, trabalho e auxílio ao suserano, que,
reciprocamente, investia o vassalo no benefício, elemento real e econômico
dessa relação feudal.
Na época medieval, em razão dessa índole
hierarquizada das estruturas em classes sociais, dilui-se o princípio da
cidadania. O relacionamento entre senhores e vassalos dificultava
bastante a definição desse
conceito. O homem medieval, ou era vassalo, ou servo, ou suserano; jamais foi cidadão.
Os princípios de cidadania e de nacionalidade dos gregos e romanos estariam
“suspensos” e seriam retomados com a formação dos Estados modernos, a partir de
meados do século XVII.
1.4 A CIDADANIA NA IDADE MODERNA
Os primeiros sinais de desmoronamento do
sistema que caracterizou o medievo foram a privatização do poder. Hannah
Arendt, citada por Quintão[12], diz que:
“A queda da autoridade política foi
precedida pela perda da tradição e pelo enfraquecimento dos credos religiosos
institucionalizados; foi o declínio da autoridade religiosa e tradicional que
talvez tenha solapado a autoridade política, e certamente provocado a sua ruína”
Com o fim do feudalismo e a ocorrência da
formação dos Estados nacionais, a sociedade, ainda formada e organizada em
clero, nobreza e povo, volta a ter uma centralização do poder nas mãos do rei,
cuja autoridade abrangia todo o território e era reconhecida como legal pelo
povo. Língua, cultura e ideais comuns auxiliaram a formação desses Estados
Nacionais.
Já no final da Idade Moderna, observa-se um
sério questionamento das distorções e privilégios que a nobreza e clero
insistiam em manter sobre o povo. É aí que começam a despontar figuras que
marcariam a História da cidadania, como Rousseau, Montesquieu, Diderot,
Voltaire e outros. Esses pensadores passam a defender um governo democrático,
com ampla participação popular e fim de privilégios de classe e ideais de
liberdade e igualdade como direitos fundamentais do homem e tripartição de
poder. Essas idéias dão o suporte definitivo para a estruturação do Estado
Moderno. Lembrando que alguns desses ideais já teriam sido objeto de discussão
quando do início do constitucionalismo inglês em 1215, quando o rei João Sem
Terra foi forçado a assinar a Magna Carta.
As modernas nações, governos e instituições
nacionais surgiram a partir de monarquias nacionais formadas pela centralização
ocorrida no desenrolar da Idade Moderna. Segundo Wilba Bernardes “desde o
momento em que o Estado moderno começa a se organizar, surge a preocupação de
definir quais são os membros deste Estado, e, dessa forma, a idéia atual de
nacionalidade e de cidadania só será realmente fixada a partir da Idade
Contemporânea”[13].
“Desde o advento do Estado liberal de
direito, a base da cidadania refere-se à capacidade para participar no
exercício do poder político mediante o processo eleitoral. Assim, a cidadania
ativa liberal derivou da participação dos cidadãos no moderno Estado-nação,
implicando a sua condição de membro de uma comunidade política legitimada no
sufrágio universal, e, portanto, também a condição de membro de uma comunidade
civil atrelada à letra da lei”.
1.5 OUTRAS CONSIDERAÇÕES
A história da cidadania mostra bem
como esse valor encontra-se em permanente construção. A cidadania constrói-se e
conquista-se. É objetivo perseguido por aqueles que anseiam por liberdade, mais
direitos, melhores garantias individuais e coletivas frente ao poder e a
arrogância do Estado. A sociedade ocidental nos últimos séculos andou a passos
largos no sentido das conquistas de direitos de que hoje as gerações do
presente desfrutam.
O exercício da cidadania plena pressupõe ter
direitos civis, políticos e sociais e estes, se já presentes, são fruto de um
longo processo histórico que demandou lágrimas, sangue e sonhos daqueles que
ficaram pelo caminho, mas não tombados, e sim, conhecidos ou anônimos no tempo,
vivos no presente de cada cidadão do mundo, através do seu
“ir e vir”, do seu livre arbítrio e de todas as conquistas que, embora
incipientes, abrem caminhos para se chegar a uma humanidade mais decente, livre
e justa a cada dia.
2 A CIDADANIA NO BRASIL
A história da cidadania no Brasil está
diretamente ligada ao estudo histórico da evolução constitucional do País. A
Constituição imperial de 1824 e a primeira Constituição republicana de 1891
consagravam a expressão cidadania.
Mas, a partir de 1930, observa Wilba Bernardes[15], ocorre uma nítida
distinção nos conceitos de cidadania, nacionalidade e naturalidade. Desde
então, nacionalidade refere-se à qualidade de quem é membro do Estado
brasileiro, e o termo cidadania tem sido empregado para definir a
condição daqueles que, como nacionais, exercem direitos políticos.
A história da cidadania no Brasil é
praticamente inseparável da história das lutas pelos direitos fundamentais da
pessoa: lutas marcadas por massacres, violência, exclusão e outras variáveis
que caracterizam o Brasil desde os tempos da colonização. Há um longo caminho
ainda a percorrer: a questão indígena, a questão agrária, posse e uso da terra,
concentração da renda nacional, desigualdades e exclusão social, desemprego,
miséria, analfabetismo, etc.
Entretanto, sobre a cidadania propriamente
dita, dir-se-ia que esta ainda engatinha, é incipiente. Passos importantes já
foram dados. A segunda metade do século XX foi marcada por avanços
sócio-políticos importantes: o processo de transição democrática, a volta de
eleições diretas, a promulgação da Constituição de 1988 “batizada” pelo então
presidente da constituinte Ulysses Guimarães de a “Constituição Cidadã”. Mas há
muito que ser feito. E não se pode esperar que ninguém o faça senão os próprios
brasileiros. A começar pela correção da visão míope e desvirtuada que se tem em
ralação a conceitos, valores, concepções. Deixar de ser uma nação nanica de
consciência, uma sociedade artificializada nos seus gostos e preferências, onde
o que vale não vale a pena, ou a mediocridade transgride em seu conteúdo pelo
arrastão dos acéfalos. Tem-se aqui uma Constituição cidadã, mas falta uma
“Ágora” onde se possa praticar a cidadania, e tornar-se, cada brasileiro em um ombudsman de sua Pátria.
É inegável que o Brasil é um País injusto, ou
melhor, a sociedade brasileira é extremamente desigual. Basta ver os números do
IBGE para indagarmos os motivos de tantos contrastes, de tão perversos
desequilíbrios. E o que é pior: a cada pesquisa, as diferenças aumentam, a
situação de ricos e pobres que parecem migrar para extremos opostos... nessa
escala de aprofundamento das injustiças sociais, ao contrário do que desejava
Ulysses Guimarães em seu discurso na Constituinte em 27 de julho de 1988:
“essa será a Constituição cidadã,
porque recuperará como cidadãos milhões de brasileiros, vítimas da pior das
discriminações: a miséria”. “ Cidadão é o usuário de bens e serviços do
desenvolvimento. Isso hoje não acontece com milhões de brasileiros, segregados
nos guetos da perseguição social”.
Por que tudo isso continua? Falta vontade dos
governos? Ao que parece, todos se preocupam, reclamam e se incomodam com esta
triste realidade, mas, ações consistentes, de efeitos estruturais e capazes de
mudar os rumos das tendências sócio-econômicas da sociedade brasileira não se
podem vislumbrar, ainda. É vontade geral manifesta que haja um mínimo de justiça
social. Entretanto, por que não fazer valer esse desejo da maioria, se este é
um País democrático? Será que se atribui muita importância, ou se respeitam
demais as chamadas minorias? As elites?
As questões são mais profundas. As soluções
demandam “garimpagem” com muito tino e sabedoria, requerem grande esforço
social conjunto. Não servem aqueles apelos carregados de emoção em busca de
respostas emergentes e imediatas, que passam logo e deixam a população ainda
mais frustrada, mais descrente. Há que se pensar algo mais racional, profundo e
que tenha começo, meios e finalidades claros, objetivos e sem a essência
obrigatória do curto prazo.
Por falar em começo, que tal pensar-se em
construir uma verdadeira cidadania? Aliás, construir a cidadania dos
brasileiros. Fala-se tanto das qualidades incomuns dos pátrios. Povo alegre,
generoso, criativo, pacífico, solidário, sensível ante os problemas alheios;
povo capaz de reagir rápida e inteligentemente, ante a situações adversas.
Porém, falta a cidadania... Esta, sim, é uma qualidade da qual não prescinde um
povo que se diz democrático. Alain Touraine[16] vê a liberdade como a primeira das condições necessárias e
suficientes à sustentação democrática. A outra condição para uma democracia
sólida é a cidadania.
Para que haja democracia é necessário que
governados queiram escolher seus governantes, queiram participar da vida
democrática, comprometendo-se com os seus eleitos, apontando o que aprova e o
que não aprova das suas ações. Assim, vão sentir-se cidadãos. Isto supõe uma
consciência de pertencimento à vida política do país. Querer participar do
processo de construção dos destinos da própria Nação. Ser cidadão é sentir-se
responsável pelo bom funcionamento das instituições. É interessar-se pelo bom
andamento das atividades do Estado, exigindo, com postura de cidadão, que este
seja coerente com os seus fundamentos, razoável no cumprimento das suas finalidades
e intransigente em relação aos seus princípios constitucionais.
O exercício do voto é um ato de cidadania.
Mas, escolher um governante não basta. Este precisa de sustentação para o
exercício do poder que requer múltiplas decisões. Agradáveis ou não, desde que
necessárias, estas têm de ser levadas a cabo e com a cumplicidade dos cidadãos.
Estes não podem dar as costas para o seu governante apenas e principalmente
porque ele exerceu a difícil tarefa de tomar uma atitude impopular, mas
necessária, pois, em muitos momentos, o governante executa negócios que, embora
absolutamente indispensáveis, parecem estranhos aos interesses sociais. É
nessas ocasiões que se faz necessário o discernimento, próprio de cidadão
consciente, com capacidade crítica e comportamento de verdadeiro “também sócio”
do seu país.
Ser cidadão é ter consciência de que é sujeito
de direitos. Direitos à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade de
direitos, enfim, direitos civis, políticos e sociais. Mas este é um dos lados
da moeda. Cidadania pressupõe também deveres. O cidadão tem de ser cônscio das
suas responsabilidades enquanto parte integrante de um grande e complexo
organismo que é a coletividade, a nação, o Estado, para cujo bom funcionamento
todos têm de dar sua parcela de contribuição. Somente assim se chega ao
objetivo final, coletivo: a justiça em seu sentido mais amplo, ou seja, o bem
comum.
3. CONCLUSÃO
O termo cidadania parece ter caído nas graças
daqueles que têm na comunicação o instrumento de trabalho, como políticos,
dirigentes, comunicadores, sociólogos e outros profissionais que, de alguma
forma, interagem no meio social. Em seu ensaio a Veja, edição de 22/10/03,
Roberto Pompeu de Toledo, ao fazer uma crítica ao comportamento do brasileiro,
quando este se julga “estar por cima” e usa da impontualidade como meio de
dominação, refere-se à pontualidade como expressão de igualitarismo. E
acrescenta: “É, para usar detestável palavrão em voga, uma manifestação de
‘cidadania’. Na pontualidade, duas pessoas chegam junto.”. Considerada palavra
“gasta”, ou não, o fato é que a cidadania é parâmetro balizador da história do
homem enquanto ser social. Mesmo que, inconscientemente, o homem, na sua
caminhada ao longo da História, sempre manteve a cidadania como questão central
das suas lutas, como se verifica ao se recuar nos primórdios da humanidade.
A luta pela cidadania estava presente no
profetismo hebreu. Os contemporâneos de Aristóteles e Platão organizavam-se
para a prática da cidadania. A Roma de Cícero, através do Direito, da civitas, contribuiu
significativamente na discussão dos direitos civis e políticos do cidadão.
Essas histórias de lutas humanas em busca de reconhecimento de direitos do
homem como cidadão, passa também pelo medievo, onde deixam vestígios os mais
profundos. Em seguida, pelas revoluções burguesas, pelas lutas sociais dos
séculos XIX e XX e até nossos dias. A auto-afirmação continua sendo perseguida,
dia a dia, através de incansáveis batalhas contra todo tipo de iniqüidades,
injustiças, opressão, etc., perversões que insistem em obstruir as ações
humanas em prol de uma sociedade mais igualitária e feliz.
A história da cidadania confunde-se em muito
com a história das lutas pelos direitos humanos. A cidadania esteve e está em
permanente construção; é um referencial de conquista da humanidade, através
daqueles que sempre buscam mais direitos, maior liberdade, melhores garantias
individuais e coletivas, e não se conformam frente às dominações arrogantes,
seja do próprio Estado ou de outras instituições ou pessoas que não desistem de
privilégios, de opressão e de injustiças contra uma maioria desassistida e que
não se consegue fazer ouvir, exatamente por que se lhe nega a cidadania plena
cuja conquista, ainda que tardia, não será obstada.
0
2°Ano
Marcadores sociais de
diferença
Quando
examinamos, fazemos uma análise das sociedades, identificamos imediatamente a
existência de diversidades e desigualdades sociais.Muitas das diferenças entre
os indivíduos são de natureza humana como por exemplo, gênero, cor da pele,
idade, altura etc. Contudo as desigualdades sociais são produto das relações
estabelecidas entre os indivíduos, como vimos anteriormente ao estudarmos
classes sociais e o sistema capitalista, estas refletem os conflitos de
interesses de grupos ou indivíduos em relação aos outros grupos ou indivíduos
que, geralmente, colocam todos na condição de opressores e oprimidos.
Historicamente
vimos que o capitalismo apresenta um grande conflito: a luta entre burgueses e
proletários.No entanto, a história do século XX apresenta outros conflitos de
interesses que vão muito além da divisão da sociedade em classes: conflitos
entre os gêneros (homens e mulheres), adultos e jovens, brancos e não-brancos,
minorias étnicas, heterossexuais e homossexuais.
As mulheres a
partir do século XIX, e os jovens e as minorias sexuais, a partir dos anos de
1960, passaram a demonstrar sua revolta de forma coletiva.No século XX os
negros e outras etnias demonstraram sua força, nas lutas pelos direitos civis
nos EUA, pelo fim do apatheid na África do Sul e pelo fim do racismo, no
renascimento do movimento negro no Brasil e na luta dos palestinos.
Apesar da
força social dos movimentos construídos pelos oprimidos, dos milhões de vidas
sacrificadas em nome da igualdade de direitos e da liberdade, a história desses
grupos não é animadora.Sabemos que as condições de trabalho melhoraram, mas as
melhorias foram limitadas aos países imperialistas centrais, e a grande maioria
dos trabalhadores ainda é explorada, de forma semelhante ao século XIX.A cada
dia morre mais seres humanos de fome que no tempo da escravidão.Os oprimidos
ajudaram a fundar partidos, sindicatos e associações, mas a maioria destas
entidades ainda não conseguiu reverter as condições subumanas dos subjugados
da história.
Muitos
indivíduos são submetidos a uma série de discriminações e preconceitos só pelo
fato de pertencerem a uma determinada categoria de pessoas.A opressão, para se
justificar, faz uso de um sistema de idéias a que chamamos de ideologia.
Existem ao menos
cinco situações de desigualdade e opressão: de classe, de gênero, de geração,
de raça/etnia e de orientação sexual.
As desigualdades de classe – Como
aprendemos, as desiguais sociais se formaram em consequência da distribuição
desigual de renda, do excedente de riqueza produzido pelas sociedades. As
sociedades agrícolas antigas eram capazes de produzir uma quantidade de
alimentos superior as necessidades, isso proporcionou a uma pequena camada da
população o privilégio de deixar de trabalhar e viver do trabalho alheio.
As várias
classes sociais dominantes se caracterizaram por apropriarem-se, em modo e em
tempos diversos, do excedente de riqueza produzida pelas classes subalternas.O
sistema econômico dominante em cada época se esforça em manter separadas as
classes sociais e reduzir ao mínimo as possibilidades de ascensão social.Isso
ocorre através do sistema escolar, à separação territorial de classes sociais:
Rio de janeiro – Zona Oeste, favelas, subúrbios, zona norte e zona sul, à
ideologia etc.
Contudo o
sistema capitalista fez da ilusão da ascensão social ou da mobilidade social um
dos pilares de sua ideologia. Hoje, haveriam três classes fundamentais nos
países imperialistas e no Brasil se seguirmos as teorias de Marx: o
proletariado, a burguesia e a pequena burguesia. Mas com a realidade imposta
pelo neoliberalismo[1],
encontramos também milhões de indivíduos totalmente excluídos de qualquer
relação social, política e econômica.
As
desigualdades de gênero – Desde a antiguidade várias sociedades mantiveram
a supremacia masculina, esta dominação provocou a exclusão sistemática das
mulheres da política, do governo, da literatura, da arte, com exceção de raros
e relevantes momentos. Esta é a exclusão mais sistemática já praticada na
história da humanidade.A herança desta história de dominação masculina se
expressa hoje de diversas formas, entre elas: o uso da violência
institucionalizada e doméstica, a legislação discriminante, dependência
econômica ao marido e ao pai, além é claro da coisificação da mulher etc.
Chamamos
machismo à ideologia que, através de diversas formas, os homens justificam a
opressão que exercem. Entretanto as características do sistema capitalista
favorecem a inserção da mulher no mercado de trabalho e isso fez com que elas
pudessem sair em parte é claro, do próprio isolamento.
As primeiras
revoltas contra a opressão feminina ocorreram no final do século XIX, a partir
dos movimentos pelo voto universal (sufragistas) e daqueles ligados ao
movimento operário.Não podemos esquecer que durante a Revolução francesa as
mulheres foram de extrema importância para o movimento, inclusive foram as
peixeiras de Paris, em marcha para Versalhes que retiraram rei e rainha do
palácio a força, e também foram as mulheres que foram as ruas reclamando do preço
do pão e muitas outras atrocidades cometidas pelos monarcas deste período Luis
XVI e Maria Antonieta.
Essas lutas
ganharam maior impulso nos anos de 1960, quando os espaços conquistados pelas
mulheres representaram uma transformação sem precedentes na própria condição
feminina. Mas infelizmente a discriminação persiste e se manifesta desde piadas
até mesmo na legislação contrária ao divórcio que ainda sobrevive em muitos
países, na violência doméstica, na discriminação no local de trabalho etc.Mas as mulheres aqui
no Brasil tiveram uma conquista recente e muito importante: a Lei Maria da
Penha [2]- a lei número 11.340 decretada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo então presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva em 7 de agosto de 2006; dentre as várias mudanças promovidas pela lei está o
aumento no rigor das punições das agressões contra a mulher quando ocorridas no âmbito doméstico ou
familiar. A lei entrou em vigor no dia 22 de
setembro de 2006, e já no
dia seguinte o primeiro agressor foi preso, no Rio
de Janeiro, após tentar estrangular a ex-esposa.
As desigualdades
de geração – A
especificidade da opressão sobre os jovens é sua transitoriedade.Uma vez
adulto, o jovem poderá se transformar em opressor, esquecendo as próprias
condições nas quais viveu como oprimido.Apesar disso os jovens sempre se
rebelaram diante das regras sociais impostas.A sua luta, contudo, foi, até
pouco tempo, escondida e isolada no espaço doméstico. O advento do sistema
escolar de massa fez com que eles se encontrassem, criando espaços coletivos
como manifestações, ocupações, contestações,greves, expressões culturais
alternativas.
Habitualmente, os jovens se organizam em associações bem estruturadas,
como grêmios escolares, DCEs, DCAs, centros sociais etc. caracterizadas por um
baixo grau de formalismo ( larga participação etc.). A opressão contra jovens
se manifesta hoje na sociedade através da discriminação no trabalho ( baixos
salários, desemprego, exploração), na limitação dos direitos civis (violência
doméstica, etc.). Felizmente este quadro já vem se modificando a bastante
tempo, embora ainda existam algumas questões a serem examinadas amplamente,
como o primeiro emprego, a situação dos estagiários etc.
A desigualdade
racial – Esse tipo de opressão é bem antigo,
quando haviam diversas etnias que guerreavam entre si.Entretanto estes
conflitos não ocasionavam grandes tragédias, como as que ocorreram e ocorrem
ainda hoje.Além disso não tinham como consequência a dominação de uma etnia
pela outra.Com a divisão da sociedade em classes, verificou-se o
estabelecimento da condição de escravos para os derrotados. A palavra escravo
tem origem no nome do povo Eslavo, entre o qual na antiguidade se recrutava o
maior número de escravos. Após os grandes impérios submeteram povos inteiros à
escravidão ou ao pagamento de tributos para sustentar os governos dominadores.
A luta dos povos e etnias oprimidas em determinadas sociedades marcou
épocas e não há perspectivas de sua eliminação no atual sistema capitalista.Em
épocas passadas eram nações dominadas pelo centro econômico europeu ( chineses,
indianos, africanos).
Esta opressão consiste frequentemente em sufocar costumes, hábitos
sociais e, por conseguinte, a língua, a religião, a cultura e a história. Em
determinadas situações, a exploração econômica de uma etnia sobre outra se
expressa através de discriminações no mercado de trabalho. Esta opressão sempre
provocou reações, como lutas por um autogoverno ou pela autodeterminação dos
povos.Nações e etnias oprimidas como os palestinos e os negros no Brasil,têm
obviamente culturas próprias,elaborando,assim, suas próprias idéias.
O nacionalismo dos povos oprimidos e a auto-estima dos negros
brasileiros não podem ser confundidos com aquele nacionalismo que oprime ou com
o racismo às avessas, pois estes são também opressores,já que significam, no
fundo, a dominação de um grupo, ou nação sobre os outros.
A desigualdade de
orientação sexual - A opressão contra gays e lésbicas se expressa
sob todas as formas socioeconômicas, em todas as sociedades,através da
obrigação de seus membros de aderir a heterossexualidade. Quem se opõe ao
padrão de “normalidade” estabelecido, ou seja, a heterossexualidade sempre é
punido ou considerado portador de uma doença, vítima de discriminação.
Esta discriminação variou de intensidade nas diferentes épocas, mantendo
porém, uma absoluta continuidade, o famoso escritor Oscar Wilde sofreu com a condenação a partir do parágrafo
175 [3]foi julgado
culpado de "práticas estranhas à natureza" e condenado a dois anos de
trabalhos forçados pelo tribunal de Old Baley.A condição de gay ou lésbica é atacada de forma sistemática pela
sociedade. Só o fato de haver grupos sociais que colocam em discussão a
heterossexualidade é visto por muitos como um atentado.
A discriminação não é obviamente operativa se gays e lésbicas mantiverem
na clandestinidade a própria orientação sexual.É no momento em que se assumem
publicamente que começa a guerra contra eles.Essa discriminação atua em todos
os setores: no local de trabalho, onde, além de correrem o risco de demissão,
são molestados pelos outros trabalhadores (as); na sociedade, que os impede de
ter qualquer posto de comando; na família, em que a declaração de
homossexualidade chega a gerar crises e chantagens de várias naturezas.
A discriminação opera com tal violência, física e psicológica, que o
indivíduo não tem coragem de reconhecer nele mesmo a própria essência de sua
orientação sexual. Porém, se há oprimidos, existem também os opressores.Estes
se encontram geralmente nos heterossexuais,eles encontram uma série de falsas
vantagens de natureza quase exclusivamente psicológica para contribuir com a
opressão.
Tornar os homossexuais alvo de chacota e mostrar, em público, o desprezo
para com eles, assegura a própria identidade heterossexual para si mesmo e para
os outros, mantendo assim a participação na “normalidade” sexual dominante.
Concluindo, alguns indivíduos recebem salários menores que outros mesmo
tendo a mesma qualificação profissional, pois os fatores que determinam essa
situação estão nas diversidades de etnia, gênero, orientação sexual e de
geração.Ou seja, essas diferenças entre os indivíduos são transformadas, nas
relações sociais, em
desigualdades. Portanto , quando ouvimos piadas, frases
discriminatórias sobre mulheres, judeus, adolescentes, jovens, homossexuais e
negros, elas reforçam e refletem as desigualdades sociais.
Negros e negras não são “incapazes”, “ignorantes”, “primitivos”,
“bandidos”, etc., e que por isso recebem menores salários que os brancos. É o
modelo capitalista que se aproveita da ideologia da inferioridade racial para
explorar ainda mais os trabalhadores e trabalhadoras e extrair mais-valia
maior.As mulheres não são inferiores intelectualmente aos homens, não são apenas
objetos, nem todas são fúteis e
desatentas, afinal existem homens com as mesmas características, portanto essas
não são características exclusivas das mulheres e não são gerais, as mulheres
possuem raciocínio lógico, senso de direção, essas afirmações infundadas só
servem para reforçar a dominação masculina.Enfim, no mundo do trabalho, em
qualquer profissão, além das desigualdades de classe, certos indivíduos podem
sofrer duas, três, quatro ou cinco vezes mais exploração e as desigualdades
sociais.
[1] Podemos definir o
neoliberalismo como um conjunto de idéias políticas e econômicas capitalistas
que defende a não participação do estado na economia. De acordo com esta
doutrina, deve haver total liberdade de comércio (livre mercado), pois este
princípio garante o crescimento econômico e o desenvolvimento social de um
país.Surgiu na década de 1970, através da Escola Monetarista do economista Milton
Friedman, como uma solução para a crise que atingiu a economia mundial em 1973,
provocada pelo aumento excessivo no preço do petróleo. Características do Neoliberalismo (princípios
básicos): - mínima participação estatal nos rumos da economia de um
país; - pouca intervenção do governo no mercado de trabalho; - política
de privatização de
empresas estatais; - livre circulação de capitais internacionais e ênfase
na globalização; -
abertura da economia para a entrada de multinacionais; - adoção de medidas
contra o protecionismo econômico;
- desburocratização do estado: leis e regras econômicas mais simplificadas para
facilitar o funcionamento das atividades econômicas; - diminuição do tamanho do
estado, tornando-o mais eficiente; - posição contrária aos impostos e tributos
excessivos; - aumento da produção, como objetivo básico para atingir o
desenvolvimento econômico; - contra o controle de preços dos produtos e
serviços por parte do estado, ou seja, a lei da oferta e demanda é suficiente
para regular os preços; - a base da economia deve ser formada por empresas
privadas;
[2] A introdução da lei diz:
Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher,
nos termos do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação
de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção
Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher;
dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a
Mulher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução
Penal; e dá outras providências.
[3] O Parágrafo 175, conhecido formalmente
como §175 StGB e também como "Section 175" na língua
inglesa, foi uma medida do Código Criminal Germânico em
vigor de 15 de maio de 1871 a 10 de março de 1994. O Parágrafo 175
considerava as relações homossexuais como crime, sendo que nas
primeiras edições também criminalizava as relações sexuais humanas com animais,
conhecidas como bestialidade.
O dispositivo legal sofreu várias emendas ao
longo do tempo. Quando os nazistas assumiram o poder em 1935, as condenações
através do Parágrafo 175 aumentaram na ordem de magnitude de 10 vezes.
0
Moderna,
1997. I – Introdução: O Conhecimento como Característica da Humanidade, p. 1-3
1°Ano
O Conhecimento como Característica
da Humanidade
Nas
várias espécies animais existentes sobre a Terra encontramos formas de
relacionamento que nos fazem pensar na existência de regularidades que ordenam
sua vida comunitária. Percebemos facilmente que os diversos animais se agrupam,
convivem, se acasalam, sobrevivem e se reproduzem de forma mais ou menos
ordenada, em função de sua potencialidade e do ambiente em que vivem.
A
preservação da espécie e seu aprimoramento parecem ser, como afirmou Darwin na sua
teoria sobre a Evolução das espécies, o objetivo das suas formas de vida,
convivência e sociabilidade. Assim, os animais desenvolvem estilos próprios de
vida que lhes permitem a reprodução e a sobrevivência. Estabelecem para isso
modelos de vida complexos, com sistemas de acasalamento, alojamento, migração,
defesa e alimentação.
O
homem, como uma dentre as várias espécies existentes, também desenvolveu
processos de convivência, reprodução, acasalamento e defesa. Desse modo
apresenta uma série de atividades “instintivas”, isto é, ações e reações que se
desenvolvem de forma mecânica, dispensando o aprendizado, como respirar,
engatinhar, sentir fome, medo, frio. Além disso, porém, quer por dificuldades
impostas pelo ambiente, quer por particularidades da própria espécie, o homem
também desenvolveu habilidades que dependem de aprendizado. Assim, as crianças
aprendem a comer, beber e dormir em horários regulares, aprendem a brincar e a
obedecer; mais tarde, aprenderão a trabalhar, comerciar, administrar, governar.
O
homem, portanto, se distingue das demais espécies existentes porque nem todo
seu comportamento se desenvolve automaticamente em sua relação com a natureza,
nem se transmite à sua descendência pelos genes. Ele é o único animal que
necessita de aprendizado para adquirir diferenciadas formas de comportamento.
Muitas
lendas e mitos relatam a história de heróis que, mesmo crescendo no isolamento,
tornaram-se humanos – Rômulo e Remo, Tarzan, Mogli – e apresentaram
comportamentos compatíveis com o resto da humanidade. Entretanto, para se
tornar humano, o homem tem de aprender com seus semelhantes uma série de
atitudes que lhe seriam impossíveis desenvolver no isolamento. Já entre os
demais animais, se separarmos uma cria de seu grupo de origem, ela apresentará,
com o tempo, as mesmas capacidades e atitudes de seus semelhantes, pois essas
decorrem sobretudo de características genéticas.
O
cineasta alemão Werner Herzog trata justamente desse tema em seu filme O enigma de KasparHauser, de 1976. Ele
mostra como um homem criado longe de outros seres de sua espécie é incapaz de
se humanizar, revelando apenas características genéticas instintivas e animais.
Portanto,
para que um bebê humano se transforme em um homem propriamente dito, capaz de
agir, viver e se reproduzir como tal, é necessário um longo aprendizado, pelo
qual as antigas gerações transmitem às mais novas suas experiências e
conhecimentos. Essa característica, essencialmente humana, só se tornou
possível porque o homem tem a capacidade de criar sistemas de símbolos, como a linguagem, por meio dos quais dá
significado às suas experiências vividas e as transmite a seus semelhantes.
As
capacidades próprias dos animais se desenvolvem de maneira predominantemente
instintiva e se transmitem aos descendentes pela carga genética. O homem, por
sua vez, deve transmitir suas experiências e interpretações da realidade por
uma série ordenada de símbolos.
Por
isso, dizemos que o Homo sapiens é a
única espécie que pensa, isto é, que é capaz de transformar a sua experiência
vivida em um discurso com significado e transmiti-la aos demais seres de sua
espécie e a seus descendentes. É o único capaz de imaginar ações e reações sob
forma simbólica, isto é, mesmo na ausência de estímulos concretos que provoquem
medo, alegria, fome ou rancor, ele pode reviver essas situações que o
estimularam. Além disso, é o único a diferenciar as experiências no tempo e, em
conseqüência, a projetar ações futuras.
O
homem, portanto, é capaz de recriar situações e emoções, é capaz de simbolizar,
de atribuir significados às coisas, de separar, agrupar, classificar o mundo
que o cerca segundo determinadas características. Dessa habilidade provém a
capacidade de projeção, a idéia de tempo e o esforço em preparar o futuro,
características que permitem o desenvolvimento da ciência. Esse é o centro de
sua capacidade simbólica e de sua humanidade.
Ao
pensar, ao ser capaz de projetar, de ordenar, prever e interpretar, o homem,
sempre vivendo em grupos, começou a travar com o mundo ao seu redor uma relação
dotada de significado, de avaliação. Seu conhecimento do mundo – organizado,
comunicado e compartilhado com seus semelhantes e transmitido à descendência –
se transformou em cultura humana
propriamente dita. Essa elaboração simbólica da experiência fez com que os
homens recriassem o mundo segundo suas necessidades e pontos de vista,
traduzindo-o sob a forma de informação ou
conhecimento. A partir dessa
conquista, do desenvolvimento dessa capacidade genuinamente humana de
representar e transformar o ambiente natural, cada grupo, compartilhando
experiências comuns adaptadas ao seu modo próprio de vida, criou formas
próprias de sociabilidade. É por isso que encontramos formas de existência,
crenças e pensamento tão diversas. Porque elas não são apenas conseqüências de
uma estrutura genética da espécie, mas da criação de formas de ação e reação
decorrentes da experiência particular vivenciada por grupo de homens.
Uma
vez que cada cultura tem suas próprias raízes, seus próprios significados e características,
todas elas são qualitativamente comparáveis. Enquanto culturas, todas são
igualmente simbólicas, fruto da capacidade criadora do homem e adaptadas a uma
vida comum em determinado espaço e tempo nesse contínuo recriar, compartilhar e
transmitir a experiência vivida e aprendida.
Sociologia : Introdução
à Ciência da Sociedade / Cristina Costa - 2ª edição
– São Paulo :
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